sábado, 10 de fevereiro de 2007

Desmaios


Felizmente ainda me vou perdendo na vida. Apaixonado e morto em cada noite.
Descalço sempre descalço encontro, no avivar de lua nova, as trevas deliciosas de um amor triste – sem inicio— muito triste!

Nada de mim mais pode partir para o Além, todo eu e a Alma já lá estamos.
O que mostra o sol é um conjunto despedaçado de seres que já foram fadas encantadas em bosques de beijos perdidos, que aos meus lábios, sem sabor, vieram parar!

E assim morto do lado de lá das nuvens pareço mais real aos olhos daquelas que vivos na maldade infinita dos vivos insistem em me beijar e tirar à minha boca o sabor celeste!

Dádiva de Deus!

Não sou daqui! Morri há anos. Ainda novo. Agora que vos vejo dos nuvens em tempestades sonho ainda que vivi ao lado de todos com um Amor tão grande que se perdeu.

Com saudade infinita daqueles lampiões de luz para onde me habituei a renascer com a força da tempestade agitada sobre o chão onde dizem que estou.

Sobre-me a solidão e a dor.

Aqui onde desabo em chuva sobre a terra, aí onde alimento as rosas e as giestas.

Eu parti.

Adormeço, agora, nos braços de Deus em cada poente, com os lábios encostados ao peito de um Amor nunca encontrado.

Sobre-me um trono onde fui rei.

Encontrada a loucura renasce-me de vida o vento sul coroado de cores de um deserto anónimo onde o Nada é permanente como a mágoa e Amor do Inicio.

Duvido de tudo porque sei que o tempo se esgota na dor da existência.

H. Levy in Intensidades (Europress 2001)

4 comentários:

Anónimo disse...

a soma das palavras soa sempre a coisas próximas, a texturas do nosso mundo e do nosso fado...
a passeios lado a lado pelo desfiar da vida, onde encontramos pedaços do que vivemos em amor ou em desamor, mas sempre acreditando que o momento é tudo aquilo a que temos direito... e assim vamos!

Unknown disse...

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Helder ( Poemacto-1961)

Anónimo disse...

Lindo, simplesmente... "Felizmente ainda te vais perdendo na vida?" Felizmente! E felizmente ainda vais sendo encontrado...!

Anónimo disse...

Amei-te! Amo-te! Amar-te-ei!!!