sexta-feira, 30 de março de 2007

Feminino Muito Plural -- S.A.R. Dona Maria Benedita

A Princesa Dona Maria Benedita nasceu em Lisboa em 1746 e faleceu em Lisboa em 1829.

Dona Maria Benedita era a quarta filha do Rei D. José e da Rainha D. Mariana Vitória de Bourbon. Teve uma esmerada educação. Ddicou-se à música, canto, pintura, desenho e poesia. Era fluente em castelhano, francês, italiano e inglês.
Aos trinta e um anos casa em Lisboa com o seu jovem sobrinho o Príncipe D.José, presumível herdeiro do trono de Portugal, que tinha dezasseis anos, tendo vivido durante onze anos profundamente apaixonada pelo marido que morre em 1788. Depois de viúva ficou inconsulável e passou a fazer uma vida solitária e comtemplativa.
A Princesa Real comprou uma quinta em Runa na qual mandou edificar o Asilo dos Inválidos Militares. Foi a forma que encontrou de homenagear a memória do seu amado marido que tinha uma predilecção pelos assuntos militares.
No seu testamento deixou importantes legados para a sustentação do Asilo Militar de Runa que ainda hoje cumpre a sua missão.

Feminino Muito Plural -- Maria Isabel Aboim Inglês

Maria Isabel Aboim Inglês nasceu em Lisboa em 1902 e faleceu na mesma cidade em 1963.

Maria Isabel Inglês foi uma lutadora anti-fascista, membro da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática M.U. D. Directora de um colégio de ensino particular, criado em 1949.
Maria Isabel era professora da Faculdade de Letras de Lisboa. Leccionou História Antiga e Moderna e Psicologia Exprimental.
Foi vítima de várias prisões arbitrárias, por diversas vezes barbaramente torturada pela plícia política do fascismo.
Esta corajosa anti-fascista era uma presença constante nas Jornadas de Luta contra o Fascismo e nas campanhas eleitorais para a Presidencia da República do Dr. Rui Luiz Gomes, do General Humberto Delgadoe e do General Norton de Matos.
Viúva, com cinco filhos, entregou-se sempre à luta pela liberdade, tendo levado uma vida de grande dignidade e coragem.

Feminino Muito Plural -- Mécia Mouzinho de Albuquerque

Mécia Mouzinho de Albuquerque nasceu em Lisboa em 1870 e faleceu na mesma cidade em 1961.

Mécia Mouzinho de Albuquerque foi escritora e poeta. Fundadora da Liga Portuguesa Contra o Câncro em 1931.
Mesmo depois da implantação da República, Mécia defendeu a Monarquia, tendo demonstrado grande coragem e lucidez.
Foi atacada e perseguida pelo jovem regime republicano. Fundou em 1915, juntamente com a Condessa de Ficalho e Constança Telles da Gama uma associação para ajudar e apoiar os monárquicos mais precisados de auxílio e vítimas das perseguições dos republicanos. Visitou presos políticos, tendo por isso passado por momentos muito difíceis, tendo sido vítima de várias perseguições.
Mécia Mouzinho de Albuquerque era uma personalidade de grande sensibilidade e cultura. Publicou várias obras em prosa e em verso, algumas das quais foram traduzidas para espanhol, francês, e marata. Colaborou em diversos jornais e revistas portuguesas e estrangeiras, assinando os seus artigos sob o pseudónio Zoleica.
Mulher de uma vasta cultura percorreu a Europa em digressões intelectuais e artísticas.
Era membro correspondente da Société de Gens de Lettres de France em Portugal.
Pela sua colaboração no jornal "A Voz" foi condecorada com a medalha de Mérito Cívil e de Artes e Letras.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Feminino Muito Plural -- Adelaide Cabete

Adelaide Cabete nasceu em Elvas em 1867 e faleceu na mesma cidade em 1935.
Concluiu o Curso de Medicina aos 33 anos na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa. Em 1900 defendeu tese de licenciatura que versava sobre a protecção às mulheres grávidas pobres.Na época era raro uma mulher cursar medicina.
A carreira de Adelaide Cabete inicia-se aos 23 anos, idade em que concluiu o exame da instruçao primária.
Médica de grande prestígio foi grande defensora das ideias repuplicanas, pondo sempre a ciência ao serviço das mulheres, das crianças e dos mais excuídos e despretegidos.
Em 1814 fundou o ramo portugês do Caucil of Women- Conselho Nacional das Mulheres Portugêsas. Era também representante da Aliança para o Sufrágio Feminino, cujo lema era " A Mulher quer os seus direitos para cumprir os seus deveres".
Participou em vários Congressos Internacionais Feministas em Roma, Paris,e Washington.
Organizou também Congressos em Lisboa relacionados com a temática da Educação e da Libertaçao da Mulher. Em 1928 organizou o 1º Congresso Abolicionista da Prostituição.

Feminino Muito Plural


Muitas foram, ao longo da História do nosso país, as mulheres que se distinguiram e contribuiram para o desenvolvimento da Cultura, da Ciência,da Cidadania, das Artes e das Letras em Portugal, mas nem sempre foram verdadeiramente reconhecidas e suficientemente divulgos os seus feitos.

Em Feminino Muito Plural encontrará alguns vultos femininos, pouco conhecidos, cuja memória e feitos pretendo divulgar em reduzidas sinópses.

A sociedade portuguesa do século XXI pauta-se, ainda, pelo enaltecimento dos feitos masculinos, votando ao ostracismo alguns dos nomes femininos que contribuiram para uma sociedade melhor, mais igualitária, justa e feliz!

Caso o leitor tenha mais informações, que ache pertinentes, sobre os nomes aqui retratados deixe-as nos "Comentários" para posteriormente serem juntas à postagem original. Muito obrigado e boas leituras...

H. Levy

quarta-feira, 28 de março de 2007

Yüan Mei



Muito estranho sempre me pareceu
Os homens adorarem um deus.
E a vida a esse deus dedicarem
E diante dele se curvarem.
Que os deuses são feitos por dentro
Da matéria da sombra ou do vento.


Yüan Mei
(1716-1799)

paisagem sem voz



a tua sombra recorta
no lado do mar o sol !
espaço é o teu desejo
acompanhado e só

místicos caminhos
vestem teus olhos
de linho branco
consentes e deus abençoa
nos campos o vizir do sonho

foste junco a oriente
rosas bravas de Pessanha
ao longe barcos de flores…

em todos navegaste a alma
deixaste âncora

resta-nos o murmúrio
nocturno da memória
lágrimas
que ensinaste a enxugar
sem mais podermos
escutar seu som !

pelo coração e pelos lábios
somos os mesmos
desdobrados em versos…
paisagem do ocaso
onde o sol agora vai
anoitecer os deuses calados
à espera da sede do amor perdido…

H.Levy

Nos Braços de Leonor /no seguimento de Sofá Verde-água



António Maria partira para a praia com a prancha de surf. No carro azul o cão já por ele esperava, sentado, muito direito, latindo baixinho. Pelo caminho António encontrou-se com Marcos, ambos tomaram café.
Conversaram sobre as previsõe do estado de mar para aquela manhã de sábado. António achou algo diferente em Marcos, parecia que os olhos estavam mais brilhantes, tinha um aspecto cansado mas feliz! Brincou, perguntando-lhe onde é que tinha dormido. Marcos respondeu-lhe que só estava ali porque já há muito tinham combinado ir surfar naquele dia, em que se previa boas ondas e correntes marítimas. Não fora isso estaria, àquela hora a tomar um agradável pequeno-almoço na mais bela esplanada da cidade.
António não sabia que havia sido uma mulher a causadoura do brilho matinal dos olhos de Marcos. António Maria deu uma palmada nas costas do amigo, passou a mão pelos seus cabelos desalinhados e segredou-lhe que gostava de o sentir feliz! Não houve mais nenhum comentário. No círculo de amigos, de ambos, constava a possibilidade de Marcos se sentir atraído por rapazes. Naquele Outono alguém o encontrara, diversas vezes, num bar de praia, que não frequentavam, a beber e conversar com um jovem desconhecido do grupo habitual... Fora esta suspeita que aproximara mais António Maria de Marcos.
António sentia uma enorme curiosidade pela vida amorosa do amigo, além disso achava-o belo... demasiado belo para não chamar a atenção de raparigas e de rapazes. Ele próprio se sentia encantado sempre que podia estar sozinho com Marcos.
Chegados à praia, onde por ser Inverno, havia ainda poucos surfistas, vestiram-se. O cão sempre a pedir que atirassem uma bola para a água que depois trazia diligente até aos pés de um dos rapazes.
Durante a viagem para a praia e enquanto nela estiveram não voltaram a falar da hipotética noite escaldante de Marcos. Já de volta à cidade, António, que durante toda a manhã sentira o seu amigo pouco concentrado, e o encontrara mais belo e sensual do que nunca, atreveu-se a comentar que a beleza e o espírito de Marcos deveriam atrair mulheres de todas as idades e talvez até alguns homens...
Marcos sorriu, docemente, para o amigo, com suavidade passou a mão pela cabeça de António respondendo-lhe que o encontro que tivera, na noite anterior, não fora como os outros.
Naquela noite a ternura e o desejo tinham-se encontrado com o Amor e com tudo o que este nos devolve e espera de nós... que estava feliz e incrédulo com o que se tinha passado. De início preparara-se para mais um joguinho de perigosa sedução, acabando por sentir a alma mais envolvida do que o corpo. Sentira o Amor de uma forma completamente nova que o envolvia na totalidade. Alma, espírito e corpo entregavam-se ao mesmo abraço. O Amor surgiara-lhe assim, pela primeira vez, Maior!
António Maria que escutara Marcos com atenção, estava agora com dificuldade em encontrar as palavras certas para o que queria perguntar e, de repente, de forma algo desconcertante, pediu a Marcos que lhe dissesse o nome de quem, por magia,lhe transformara a vida.
Marcos, carinhosamente, disse Leonor, beijou-lhe os cabelos,abraçou-a contra ele. Voltou aos sonhos que se têm quando somos felizes... Permaneceu aninhado no Amor sobre um sofá verde-água...
H. Levy

quarta-feira, 21 de março de 2007

À Ternura da Vicenta...


Escrever na primeira pessoa do singular pode parecer, por vezes, desadequado, pois, aparentemente, os leitores valorizam mais uma opinião indeterminada , mesmo quando esta é fruto dos sentimentos e do pensamento de quem escreve. Neste texto o uso da primeira pessoa do singular é imperativo!

Sempre me relacionei com os animais de uma forma particular. Desde cedo os entendi como seres com inteligência partilhada e com uma vida emocional muito rica e variada. Ainda pequeno, habituei-me a conviver com vários animais e com todos estabeleci relações fortes, familiares mesmo !
A amizade e dependência afectiva que estes seres nutrem pelos seus amigos humanos sempre me aproximou deles de forma muito terna e com vontade de com eles estabelecer uma relaçâo sólida.

Os animais são, para aqueles que os amam, amigos francos e honestos sempre dispostos em nos alegrarem os dias. Enchem o nosso coração de carinho e ternura, contribuem para que os nossos dias sejam mais felizes, pois são partilhados por estes amigos que nos obrigam a confrontarmo-nos com o melhor de nós próprios...

Numa madrugada, quase manhã, de Junho acordei angustiado, com o coração muito acelerado, inquieto. Por não perceber o que me estava a acontecer, achando muito estranho o estado em que me encontrava, desci ao andar de baixo da enorme casa onde vivia. Fui verificar se os meus três pequenos sobrinhos dormiam tranquilos nos seus quartos. Muitas vezes, enquanto pequenos, os meus sobrinhos passavam temporadas comigo no Alentejo. Mesmo depois de verificar que as crianças estavam bem, a minha agitação aumentava. Não era o sono dos rapazes que me trazia naquele estado de ansiedade. O que seria então ?

Vesti-me, sai de casa deambulando pela vila, ainda adormecida, apesar do sol já ter despontado e começar a espelhar-se na barragem do Maranhão. Andava sem destino como se conseguisse, desse modo, libertar-me da dor angustiante que de mim se apoderara.

Ao passar por um caixote de lixo pareceu-me ouvir um som conhecido. Abri a tampa do enorme contentor, aparentemente vazio, saltei lá para dentro, deparei com cinco gatinhos recém-nascidos que tinham sido afogados e atirados para aquele caixote imundo. Verifiquei que todos os gatos estavam já sem vida, excepto um cujo coração batia muito pausadamente. Saí do caixote , virei o gatinho de pernas para o ar e dei-lhe umas pancadinhas com o dedo.

Encaminhei-me logo para casa. Pelo caminho ia fazendo respiração boca-a-boca ao gatito que se debatia por sobreviver, ao mesmo tempo pensava que a razão da minha angústia era aquele gato bebé que precisava de ser salvo! Chegado a casa aqueci um saco de água quente, limpei muito bem o gatinho e encostei-o contra o meu peito nu. Assim nos deixamos estar os dois durante longo tempo... começava ali uma relação cujos laços eram a porópria vida que tentava devolver àquele desprotegido e infortunado animal.

Seguiram-se várias noites sempre interrompidas pelos biberons, cuidados e carinhos. Constantes idas ao veterinário. Assim, a Vicenta tornou-se numa gatinha muito bonita, simpática e feliz. A nossa amizade era imensa e ia crescendo à medida que o tempo passava. Havia entre nós laços fortíssimos e um entendimento constante e perfeito.

Durante treze anos a Vicenta acompanhou a minha vida. Veio comigo viver para Lisboa, abandonando a liberdade e a alegria de andar livre pelos quintais e telhados da vila onde nasceu. Habituou-se a viver num apartamento no centro da capital, contentou-se com uma varanda solarenga! O seu amor por mim era maior e mais importante do que o gosto de saltar muros, caçar insectos, adormecer em cima das árvores...

Entre nós dois foi-se estabelecendo, ao longo dos anos, uma sólida amizade, ambos tentavamos tornar felizes os dias um do outro...

À volta da mesa de jantar celebravamos a amizade, o encontro, a ternura que a todos unia, comiamos felizes e brindavamos com um excelente vinho que a Paula e o Carlos tinham trazido. O calor daquela mesa era a esperança, sempre renovada de voltar a acreditar no Homem. Discutiamos poesia, Deus e arte...

Enquanto isso a minha amiga Vicenta ,doente há vários meses, entregara-se, serenamente, a um sono eterno, deixando-me com uma maior angústia, dor e inquietação do que na madrugada em que a encontrei...

Obrigado Vicenta por teres feito de mim uma pessoa melhor!

H. Levy

segunda-feira, 19 de março de 2007

Sofá Verde-água


Finalmente conseguiu fechar a porta de entrada do prédio, deixar lá fora a chuva torrencial e o vento que a tinham acompanhado desde a estação do comboio até casa.

Deixou a pasta no chão da cozinha, pois estava encharcada, despiu-se e tomou imediatamente um duche quente. Aquele dia na escola tinha sido muito perturbador. No final do teste do décimo segundo ano, um dos alunos, ao entregar o trabalho, disse-lhe, com olhar penetrante, que tinha gostado muito dos textos que Leonor aconselhara a leitura, que gostaria muito de discutir com ela o texto relacinado com Ética e Moral na Europa...

Que bom ter um aluno interessado, pensou Leonor. Antes de propôr um encontro com Marcos na biblioteca da escola, ele já lhe tinha pedido o número de telefone e ela sem se aperceber do perigo, escrevera-o, quase automaticamente, numa folha de papel que discretamente passou para as mãos de Marcos. Este saira da sala em silêncio com uma alegria imensa que se apoderou de todo o seu corpo.

Saiu do duche, vestiu o roupão, ligou os aquecedores, acendeu um cigarro e deixou-se ficar sentada no cadeirão verde-água. Pensava no cabelo longo e brilhante de Marcos, no seu sorriso quase estonteante e no facto inédito de ter dado o seu contacto telefónico a um aluno... apagou o cigarro no cinzeiro a seu lado, levantou-se e pensou em preparar um jantar leve. Quando ja estava na cozinha o telemóvel tocou. Era Marcos. Pedia desculpa por estar a ligar, ela respondeu-lhe que não tinha importância e convidou-o a partilhar com ela o jantar leve. Ele aceitou entusiasmado, ela deu-lhe a morada e desligou não sem antes ter ouvido até logo... um beijo...!

Leonor preparou o queijo,dispôs as carnes frias num prato antigo, cortou o pão e escolheu uma garrafa de vinho tinto que não abriu, vestiu umas calças e uma camisola de lã azul.

A casa estava aquecida, Leonor tremia. Um tremor que vinha da impossibilidade de organizar o pensamento, que a percorria e deixava em todo o seu corpo ansiedade.Só assim poderia explicar a si própria , no dia seguinte,a razão que a levara a que tudo aquilo estivesse a acontecer!

Marcos chegou com olhar brilhante, sorriso rasgado, mãos ligeiramente suadas... Leonor estendera-lhe a mão, quando o recebeu á porta, mas ele já se adiantara e beijara-lhe uma das faces. Leonor começou a falar sem se ouvir, não conseguia deixar de falar... falava da escola , dos textos de filosofia, de alguns dos quadros que tinha em casa... do cadeirão verde-água que pertencera à sua avó, contando até que a avó, que tinha sido professora de música, fora encontrada morta naquele cadeirão. Explicava agora que a avó Angélica morrera durante o sono... Entretanto Marcos abrira a garrafa de vinho, servira dois copos e olhava Leonor, pediu-lhe que ouvissem um disco que trouxera com ele. Ela calou-se, mostrou-lhe o lugar da aparelhagem e beberam de um golo só todo o vinho dos copos.

Marcos voltou-se na direcção de Leonor segurou-lhe a mão e segredou-lhe que a desejava, abraçando-a com os seus braços longos e fortes. No sofá verde-água, Marcos despia e beijava Leonor que se entregava serenamente, enchendo-o de beijos até ambos adormecerem quando o dia já nascia na cidade.
H. Levy

sexta-feira, 16 de março de 2007

Angélica


As folhas pautadas, onde os alunos tinham inscrito os seus ditados melódicos, estavam espalhadas por toda a sala.

A janela ficara aberta durante a noite. Não era previsível que a madrugada trouxesse mais do que a brisa habitual aos primeiros dias de Verão.

Angélica entrou na sala, acabara de acordar com o barulho da janela a bater contra as velhas portadas. Os óculos tinham ficado na mesa de cabeceira. Dirigiu-se para a janela e sem ver o que estava no chão pisou, com as suas pantufas amarelas, as folhas espalhadas .... Fechou a janela, energicamente, e voltou a pisar alguns papeis enquanto se encaminhava para o quarto. Pôs os óculos, voltou à sala. Quando viu os trabalhos dos seus alunos espalhados e pisados Angélica abafou um grito de espanto e dor. Iniciou imediatamente a recolha de todas as folhas que o vento tinha espalhado pela sala.

Agora havia um montinho de papeis organizados e arrumados dentro de uma pasta em cima da mesa da sala, mesmo ao lado de uma antiga fruteira de vidro que há muito estava vazia.

Angélica sentou-se no sofá verde-água que estava encostado ao piano, o seu coração batia tumularmente agitado, tirara os óculos, passara as duas mãos pela cara, ajeitara o cabelo. Tentou levantar-se para abrir a porta ao gato Elias que miava a pedir companhia, mas voltou a cair no sofá para não mais se levantar.

H. Levy
Nota: A morte de Angélica, professora de música, deixou na comunidade,nos alunos, nos docentes e amigos , um grande constrangimento e saudade.