terça-feira, 24 de abril de 2007

Diário III O Milagre...


A noite caía por perto... não na distância contável em metros que nos separa da porta do quarto quando estamos sentados na cama a comtemplar a alvura do tecto, mas perto, mesmo perto de um pensamento. Era aí que a noite caíra.

Quando anoitece num lugar perto do pensamento, abrimos muito os olhos, concentramo-nos no essencial e entregamo-nos ao sono. Local onde permaneceremos um dia sem constatarmos o Milagre diário de acordar...

Acordamos todos os dias , desvalorizamos o mistério, benção dessa acção!

Ao longo da vida vamos coleccionando diversos acordares. Quando compramos uns dias de férias em África, ou noutro qualquer destino, o que nos é proporcionado, na verdade, é o facto de irmos acordar em lugares diferente da nossa cidade...

Acordamos sozinhos, bem ou mal acompanhados, ao lado do gato que se enroscou em nós, ao lado do cão que dorme no tapete... Enquanto crianças alguns acordam ao lado dos irmãos com quem partilham o quarto. Quando mais pequenos acordávamos no berço do quarto dos nossos pais... Já acordámos na praia, junto ao mar ou nas dunas, de manhã ou ao entardecer. Debaixo de uma árvore, ou com a boca na areia, acordámos também no meio de algumas aulas, no carro, comboio ou avião...

Alguns quando acordam parecem zombis, o Milagre de acordar demora tempo a abandoná-los, outros saem do sono com ligeireza e depois de acordarem estão acordados! Prontos para voltar a adormecer quando a magia se desvanescer...
As crianças acordam, não tantas vezes como deviam, no colo dos pais, dos avós ou dos irmãos...

Os mortos que não morreram acordam nas morgues, alguns doentes nos hospitais...
Os velhos acordam várias vezes por dia, abandonados à solidão de acordarem tristes...

Há os que acordam contrariados, sabem que os espera um dia agitado, ou porque queriam saber como acabaria o sonho interrompido pelo Milagre.

Alguns acordam no fresco das igrejas. No decorrer de um concerto, durante um filme, ou mesmo de uma peça de teatro. Acordam também a meio da leitura, em frente a um computador ou televisão, sentados na sala de espera de um Centro de Saúde ou dentista...

Acordar tem sempre algo de surpreendente, de futuro, de magia e de mistério. De encantamento e de vida... Milagre!

Reescreva-se então o texto: No princípio era o Verbo e o Verbo acordou e com Ele acordaram todas as coisas adormecidas na memória criadora de Deus...

Nada poderia existir se o Verbo ainda dormisse e não tivesse nunca acordado para o Milagre da Criação... da Vida... do Universo...

Os olhos do Senhor Deus acordaram, nessa manhã criou-se o acordar de todas as coisas, as visíveis e as invisíveis.... assim se instaurou o Milagre por toda a Eternidade...mesmo quando esta parece adormecida...

H. Levy

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Feminino Muito Plural -- Virgínia Quaresma

Virgínia Quaresma nasceu em Elvas em 1882 e faleceu em 1973.

Virgínia Quaresma foi a primeira mulher a exercer jornalismo em Portugal.
Foi colaboradora muito activa nas redacções dos jornais O Século e A Capital. Fundou a primeira agência de publicidade no jornalismo.

No período que se seguiu à Implantação da República até ao Movimento de 28 de Maio de 1926, esta jornalista distinguiu-se em importantes reportagens de teor politíco e social.

Durante vários anos trabalhou no Brasil, tendo colaborado no Correio Português e em A Época . Assinou artigos, crónicas e reportagens que tiveram grande repercussão no Brasil ao ponto de lhe ser atribuída a distinção de Cidadã Carioca Honorária.

Virgínia Quaresma foi também das primeiras mulheres a licenciarem-se pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Foi condecorada com a Ordem de Santiago pelos serviços prestados ao país durante a I Guerra Mundial.

Feminino Muito Plural -- Constança ( ? )

Durante vários séculos chegaram a Portugal negros que vinham das costas de África.

Eram trazidos por traficantes de escravos que depois os negociavam na capital e um pouco por todo o país.

Lembremos uma figura de mulher africana cuja lenda manteve a sua memória até aos nossos dias...

Constança viera ainda menina das terras de África. Trabalhava como escrava em casa de uma família abastada no bairro da Ajuda. Com o tempo transformara-se numa mulher de rara e exótica beleza, de grande bondade e inteligência.

A sua graciosidade natural e elegância desafectada tornavam-na muito atraente, produzindo grande inveja em muitas meninas brancas educadas.

Um jovem aristocrata conheceu Constança e sentiu forte desejo de com ela conviver intimamente. Rodeou-a de promessas e carinhos. Deslumbrou-a com a perspectiva de um futuro de liberdade e felicidade. A ingenuidade de Constança, ignorante das maldades do mundo masculino, levou-a a deixar-se seduzir por esse rapaz, sem escrúpulos, que somente desejava a satisfação de um apetite depravado.

Algum tempo passado, já abandonada pelo amante, Constança deu à luz o fruto do seu troturado amor. A criança foi-lhe roubada e Constança nunca mais a voltou a ver, acabando por enlouquecer com tamanha dor!

Era agora um farrapo humano e deambulava ensandecida pelas ruas da freguesia da Ajuda em Lisboa.

A sua triste história chegou até aos nossos dias, tendo um edital camarário, de 18 de Dezembro de 1989, denominado, em sua memória, uma rua da mesma freguesia com o nome: Rua da Preta Constança.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Feminino Muito Plural / Carolina Ângelo

A primeira mulher a votar no quadro dos 12 paises europeus que vieram a constituir a União Europeia.


Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda em 1877 e faleceu na mesma cidade em 1911.
Carolina Ângelo era uma militante republicana muito activa. Ela e Adelaide Cabete fizeram, pelas suas mãos, a bandeira que viria a ser hasteada em 5 de Outubro de 1910 na Câmara Municipal de Lisboa.

Carolina Ângelo formou-se em medicina na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa. Foi a primeira mulher a praticar cirurgia em Portugal.

Exerceu o cargo de Presidente da Associação de Propaganda Feminista. Presidiu também à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Dedicou grande parte da sua vida à luta pelo direito das mulheres e sua emancipação.

Ao tempo só os chefes de família podiam votar nas eleições para as Câmaras Municipais. Carolina Ângelo que era viúva e mãe considerou-se como chefe de família e pediu a sua inscrição nos cadernos eleitorais, o que lhe foi negado. Mais tarde, depois de grandes batalhas jurídicas, os tribunais concederam-lhe o direito de votar. Tornou-se, assim, a primeira mulher a exercer o direito de voto em Portugal em 28 de Maio de 1911 nas eleições para a Constituinte.