sábado, 10 de fevereiro de 2007

Carta II


A presença das palavras no papel refere ,somente, um longo pensamento que se une ao espírito que é a Alma, única parte de mim que respira.
Sabes, Poesia, a vida é feita de ilusão de actuais e antigos sentimentos, de uma troca amorosa constante, de rios doces e oceanos salgados, de permanecermos e de partirmos sempre.

Há muito que nada sabemos um do outro.
Tu ,uma forma de não ser humana, uma forma de não aceitar o real diante de si e oferecendo-nos a própria realidade de sonhar. Há na tua essência uma espécie de cruzamento entre o desejar ser tudo de si, por um lado, e o ambicionar ocupar uma dimensão supra-terrena nos outros. Ter-te-às resignado com o facto de seres a vida e de não construíres a própria vida. Ser aquela por quem alguns tanto querem viver, querem morrer, e não querem mas querem... Como se vivesses com a esperança que todas as ilusões dos poetas se tornassem reais um dia e tivesses entendido no passar dos anos os seus próprios destinos. Destinos de sombras imaculadas, de noites perpétuas e artificiais, de paisagens inabitadas, de lugares vazios de lembrança, de caminhos frios e ininteligíveis, de espaços, de abandono prometido, de largos desertos, praças esquecidas, palácios em ruínas, de espectros estranhos, de lívida imagem presente, de mosteiros e conventos, e abadias de morrer, de silêncios no silêncio, de braços imateriais.

Eu, um homem feliz com a Natureza e com o Amor , devedor de tudo o que este me concedeu. Assim, vou sendo em cada dia capaz de mim e de muitos outros! Esta lógica tu desconheces, não podes compreender, não tens referências, só podes aceitar, mas se aceitas, unicamente, onde estou eu? Onde está o meu lugar no teu coração?
É preciso ter determinação nos sentimentos que nos ligam aos outros, aceitá-los não é a única necessidade, é urgente amar e é desse amor, Poesia , que eu te quero poupar!

H. Levy

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