quarta-feira, 28 de março de 2007

Nos Braços de Leonor /no seguimento de Sofá Verde-água



António Maria partira para a praia com a prancha de surf. No carro azul o cão já por ele esperava, sentado, muito direito, latindo baixinho. Pelo caminho António encontrou-se com Marcos, ambos tomaram café.
Conversaram sobre as previsõe do estado de mar para aquela manhã de sábado. António achou algo diferente em Marcos, parecia que os olhos estavam mais brilhantes, tinha um aspecto cansado mas feliz! Brincou, perguntando-lhe onde é que tinha dormido. Marcos respondeu-lhe que só estava ali porque já há muito tinham combinado ir surfar naquele dia, em que se previa boas ondas e correntes marítimas. Não fora isso estaria, àquela hora a tomar um agradável pequeno-almoço na mais bela esplanada da cidade.
António não sabia que havia sido uma mulher a causadoura do brilho matinal dos olhos de Marcos. António Maria deu uma palmada nas costas do amigo, passou a mão pelos seus cabelos desalinhados e segredou-lhe que gostava de o sentir feliz! Não houve mais nenhum comentário. No círculo de amigos, de ambos, constava a possibilidade de Marcos se sentir atraído por rapazes. Naquele Outono alguém o encontrara, diversas vezes, num bar de praia, que não frequentavam, a beber e conversar com um jovem desconhecido do grupo habitual... Fora esta suspeita que aproximara mais António Maria de Marcos.
António sentia uma enorme curiosidade pela vida amorosa do amigo, além disso achava-o belo... demasiado belo para não chamar a atenção de raparigas e de rapazes. Ele próprio se sentia encantado sempre que podia estar sozinho com Marcos.
Chegados à praia, onde por ser Inverno, havia ainda poucos surfistas, vestiram-se. O cão sempre a pedir que atirassem uma bola para a água que depois trazia diligente até aos pés de um dos rapazes.
Durante a viagem para a praia e enquanto nela estiveram não voltaram a falar da hipotética noite escaldante de Marcos. Já de volta à cidade, António, que durante toda a manhã sentira o seu amigo pouco concentrado, e o encontrara mais belo e sensual do que nunca, atreveu-se a comentar que a beleza e o espírito de Marcos deveriam atrair mulheres de todas as idades e talvez até alguns homens...
Marcos sorriu, docemente, para o amigo, com suavidade passou a mão pela cabeça de António respondendo-lhe que o encontro que tivera, na noite anterior, não fora como os outros.
Naquela noite a ternura e o desejo tinham-se encontrado com o Amor e com tudo o que este nos devolve e espera de nós... que estava feliz e incrédulo com o que se tinha passado. De início preparara-se para mais um joguinho de perigosa sedução, acabando por sentir a alma mais envolvida do que o corpo. Sentira o Amor de uma forma completamente nova que o envolvia na totalidade. Alma, espírito e corpo entregavam-se ao mesmo abraço. O Amor surgiara-lhe assim, pela primeira vez, Maior!
António Maria que escutara Marcos com atenção, estava agora com dificuldade em encontrar as palavras certas para o que queria perguntar e, de repente, de forma algo desconcertante, pediu a Marcos que lhe dissesse o nome de quem, por magia,lhe transformara a vida.
Marcos, carinhosamente, disse Leonor, beijou-lhe os cabelos,abraçou-a contra ele. Voltou aos sonhos que se têm quando somos felizes... Permaneceu aninhado no Amor sobre um sofá verde-água...
H. Levy

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